quarta-feira, 27 de setembro de 2006


Para saber mais sobre...


Expressar o interior
através do desenho

Logo que têm idade para segurar num lápis, as crianças começam a desenhar. Mais do que uma brincadeira, os seus desenhos revelam aspectos da sua personalidade, situação familiar e social.

Quando uma criança desenha está a comunicar, está a deixar falar o seu inconsciente. No desenho a criança expõem-se e expõe o modo como interpreta o mundo. Na clínica infantil, explica a psicóloga Manuela Cruz, os desenhos das crianças são fundamentais para a compreensão dos problemas e temores das crianças e ajudam a resolver algumas situações problemáticas. Para a psicologia os desenhos das crianças são uma riquíssima forma de estudar o desenvolvimento emocional e intelectual, a capacidade de percepção e de interpretação. Toda a representação da criança reflecte sobre si mesma e, como tal, os pais têm a tentação de querer analisar os desenhos dos seus filhos. O desenho permite que a criança represente o seu corpo, a sua movimentação no espaço e, sobretudo, que comunique de uma forma diferente da palavra. No entanto, é necessário não esquecer que um desenho só por si não pode revelar tudo. Permite conhecer melhor o seu filho, mas faz parte de um método de análise muito mais vasto, usado pelos especialistas de psicologia infantil, caso contrário, corre-se o risco de tirar conclusões erradas e prematuras.


Um modo de expressão do mundo interior
Observe e demonstre interesse pelos desenhos dos seus filhos. Ao fazê-lo está a aumentar a sua auto-estima. Guarde algumas dessas obras de arte, com a data em que foram executadas, para mais tarde lhe mostrar. Mesmo que não compreenda o seu conteúdo, lembre-se que nenhum risco é feito ao acaso, todos têm um sentido que demonstram a forma de pensar da criança e a sua maneira de interpretar o mundo.

Existem três tipos de desenhos muito reveladores: o desenho da figura humana, o desenho da família e o desenho da casa. Enquanto o seu filho desenha, observe-o. Tome atenção ao local que o desenho ocupa na folha, às cores utilizadas, à ordem pela qual ele expõe os elementos. Repita esta experiência várias vezes e em diferentes dias. Se ele desenhar uma feiticeira, talvez tenha visto um filme sobre esse tema. Se não perceber o que ele desenhou, não desespere e, sobretudo, nunca faça comentários depreciativos. O desenho das crianças também evolui com a idade e não se rege pelos padrões estéticos dos adultos. Uma das características dos desenhos das crianças mais pequenas é a de poderem estar de pernas para o ar, ou a subir. Tal acontece porque as crianças ainda não aprenderam a considerar os limites da folha de papel, não têm pontos de referência nem estão preocupados com as questões da gravidade. Mais tarde, a par do seu desenvolvimento intelectual, vão aprender a usar o limite inferior da folha, como referência, para organizar o desenho e a orientá-lo da esquerda para a direita como aprendem com a escrita. Lembre-se que o desenho também serve para dar asas à imaginação. Pergunte-lhe quem é que ele quis representar e conversem sobre o desenho. Com certeza o seu filho vai ensinar-lhe muitas coisas e estes momentos de interacção e diálogo são muito importantes para o seu filho. O processo de aprendizagem das crianças envolve interacção. Quando tenta desenhar o que observa, imagina a opinião dos que o amam e apreciam o seu trabalho; corresponder a essas expectativas ajuda à aprendizagem e aumenta a auto-estima e a confiança em si próprio. Se gostar e lhe apetecer até podem desenhar em conjunto.

A linguagem das cores

A criança utiliza as cores para imitar a natureza, mas também segue o seu inconsciente, o que é muito revelador.
Contudo, as relações que de seguida apresentamos não podem ser entendidas de modo estrito, nem alarmista.
Constituem apenas indicadores, de referência possível, em contexto de análise mais alargado e especializado.

Vermelho. A sua utilização excessiva antes dos seis anos é normal. A partir daí pode indicar tendência para a agressividade e falta de controle emocional.

Azul. Utilizado por crianças com menos de cinco anos revela um comportamento mais controlado do que as que utilizam o vermelho. Substitui o castanho quando a criança renuncia a permanecer bebé.

Castanho. Se for dominante, pode ser sinal de má adaptação familiar e social.

Verde. Traduz principalmente as relações sociais. No caso de ser dominante, existe um risco de inibição.

Preto. Utilizado em qualquer idade, traduz angústia. Durante a puberdade, revela o pudor dos sentimentos.

Violeta. Reflecte inquietude e ansiedade. Raramente utilizado por crianças.

Amarelo. Muitas vezes associado ao vermelho, pode exprimir uma grande dependência relativamente ao adulto.


Notas sobre o desenho infantil
Por Teresa Ferreira, pedopsiquiatra psicanalista
«O jogo e o sonho são modos de expressão do mundo interior de crianças, e instrumentos para a sua compreensão, usados por psicoterapeutas da infância.
Nas consultas e sessões de tratamento cria-se um clima de neutralidade que facilita a libertação dos afectos, dos conflitos, das ansiedades menos conscientes.
Do desenho tiram-se significantes que nos permitem entender o lado mais autêntico e, por vezes, escondido de cada criança. Seria diferente o seu significado se o desenho fosse executado sob sugestão directa do observador, como acontece nos meios escolares onde a espontaneidade é bloqueada pelas exigências do meio.
De imediato podemos dizer, face a um desenho espontâneo, que se tratou de um conteúdo simbólico rico ou pobre. Rico se exprime uma cena, uma acção que deve ser ligada à narrativa do autor do desenho, expressando a riqueza da sua vida mental.
Conteúdos fragmentados, incompletos, de narrativa confusa, seriam sinais de pobreza ou desorganização de vida interior. O desenho é de início, aos dois / três anos, não figurativo mas de imediato tem uma forma e pode ter sempre um conteúdo rico no plano simbólico. Pode ler-se a adequação à idade e o nível do conflito que é expresso - conflito de perda, segurança, solidão, destruição, perseguição ou exprimindo fantasias adequadas à idade e à realidade cultural em que está inserida cada criança, de prazer, de pena, de estar consigo própria e com os outros.
Quando à cor: distinguimos o vermelho como ligação a conteúdos sexuais, de excitação em cenas como o jogo, a lava do vulcão, o vestido de menino que se quer exibir no fazer notar.
O branco simbólico do vazio, do nada.
O negro ligado a afectos de culpa, de raiva, de desejo destrutivo mortífero, segundo o conteúdo simbólico em que se insere.
O azul e o verde, mais ligados à área dos objectos de tranquilidade e de prazer.
Na linguagem psicodinâmica os objectos distinguem-se em afectos agressivos ou libidinais, de ódio ou de amor, ou de ambos, interligados. Podem ser voltados para o próprio em amor por si "mesmo" - que no desenho tomam a forma de fantasias de grandiosidade como ser o super-homem, o herói de cena, ou a princesa, a rainha, etc, ou afectos voltados para o exterior em ataques a personagens, a maus, a ladrões, etc.
Exprimem-se afectos de solidão na casa vazia e isolada, na imagem solta no espaço sem ninguém no horizonte como referência de segurança e protecção».

terça-feira, 26 de setembro de 2006

Ideias

A nossa sala, Sala da Alegria, tem um Correio... Cada menino tem uma mola, onde se prendem convites de aniversário, recados para os pais não se esquecerem (fraldas, toalhitas, etc), mensagens com pedido de material para as actividades (rolos de papel higiénico, tampinhas,...). Enfim, é uma forma engraçada de comunicar com os pais e de contribuir para que as crianças se tornem mais autónomas e responsáveis: "Mãe...hoje tenho correio! Lê lá..."

O nosso correio ficou assim...






Adoro ler...


Pão com doce

Sabe mãe, eu não quero ser grande. Quero olhar para as estrelas e pensar sempre que elas tocam no céu, quero imaginar que vivem anjos nas nuvens e que Deus faz lá em cima grandes patuscadas com o seu filho Jesus e outros amigos, que não há horas nem minutos, só dia quando começa a luz e noite quando as estrelas iluminam a cidade, lá ao fundo da janela, feita de mil luzinhas amarelas e brancas.

Sabe mãe, eu não quero crescer. Quero continuar a achar que a casa é tão grande que posso fazer corridas de triciclo até ficar com a língua de fora, quero puxar sempre um banco para ir buscar o iogurte escondido na prateleira do frigorífico, fazer equilibrismo cada vez que tenho de sair da banheira e pensar que o mundo está cheio de pais, mães, avós, tias e primas todas lindas, com a pele lisa e bem cheirosa que passam o tempo a dar-me beijinhos e presentes.

Eu sei que estou a crescer, os sapatos deixam de me servir de um mês para o outro, as calças roçam-me os calcanhares e as mangas das camisolas encurtam, caem-me dentes todas as semanas e já me disseram lá na escola que agora é que vou ter dentes a sério como as pessoas crescidas, mas eu não acredito, quero os meus dentes de volta para poder mastigar o bife e o pão com doce.

Também me dizem que daqui a um ano e picos me vou sentar numa carteira, vou ter livros e cadernos, vou aprender a ler e a fazer contas, não me importo nada, até acho boa ideia. O pior é que depois vou ter trabalhos de casa e quando acaba a escola eu quero é ir para o escorrega, encher a cara de areia, andar de baloiço até quase dar a volta perto do céu e esconder-me atrás dos troncos das árvores, muito direitinho sem ninguém me ver e quando a mãe chega e se põe à minha procura eu transformo-me no Homem Invisível e depois apareço de repente e voltamos os dois para casa.

A mãe liga a música e cantamos em coro a história daquela sereia que queria ser menina, da baby-sitter que voava pendurada num guarda-chuva, do rapaz pobre que encontrou uma lamparina e descobriu que o melhor amigo dele era um génio, da menina que derreteu o coração de um monstro e fez dele um homem. Ponho o cinto, não vá aparecer um senhor de bigode vestido de azul com um boné a dizer polícia que mande parar o carro e passe um papel branco com letras e números que deixam a mãe mesmo chateada.

No caminho de regresso há muitos risquinhos brancos na auto-estrada e muitos candeeiros ao pé do céu, tantos que a certa altura desisto de os contar e quando está calor posso abrir a janela e sentir o vento na cara a empurrar-me o cabelo para trás da cabeça e então fecho os olhos até metade e sonho com um hambúrguer gigante cheio de surpresas e uma bebida com bolhinhas para o jantar.

Quando crescer, tenho medo de andar sempre cansado, de já não gostar de ver o mesmo filme três vezes seguidas, de não me divertir a jogar o dominó nem a brincar às escondidas dentro dos roupeiros onde cheira a sabonete e as camisolas fazem uma espécie de almofada muito fofinha onde me sento em silêncio à espera que me descubram.

Sei que ainda faltam muitos anos para que essas coisas todas horríveis me aconteçam, que antes de me tornar um homem ainda vou mudar de voz, a cara vai semear-se de pêlos estúpidos, os meus pés vão ficar do tamanho dos de um gigante e nem vou perceber o que me está a acontecer.

Mas enquanto esse dia não chega, só me apetece brincar, dar beijinhos às pessoas de quem gosto, adormecer com a cara encostada à mão da minha mãe e pensar que ela é a mais linda e a mais querida e que vai estar sempre à minha cabeceira, quando à noite fecho os olhos e imagino que dou a volta ao mundo numa largada de balões de todas as cores...

Crónicas da Margarida de Margarida Rebelo Pinto

segunda-feira, 25 de setembro de 2006


Quero dar as boas vindas a todos os visitantes deste blog...e agradecer desde já a visita!
Espero que este espaço seja um espaço de partilha de emoções, de ideias, de conhecimento sobre o mundo encantado desses seres maravilhosos que são as CRIANÇAS.
Sou Educadora de Infância e estou presentemente a trabalhar com um grupo de crianças com idades compreendidas entre os 24 e os 36 meses. É o primeiro ano que estou em Creche e estou a gostar muito... A minha sala é a SALA DA ALEGRIA!
O INÍCIO

Os primeiros dias foram complicados: os choros, "Eu quero a mãe...", os vómitos... Eu pegava-os ao colo, dava-lhes miminhos, falava-lhes baixinho, cantava (oh se cantava...), e a pouco e pouco, eles me íam olhando com os olhos grandes, já mais calmos e atentos.

Exploravam o espaço, os legos, os livros, a BOLA...e num momento quase que se esqueciam daquela dor tão grande, a dor da separação, das saudades com sabor a abandono.

Depois os dias foram passando, as crianças foram-se habituando, ao espaço, às pessoas, ao grupo de crianças. A banda sonora da nossa sala já vai sendo a alegria...